segunda-feira, 15 de dezembro de 2014

O inventor do futuro - entrevista de Jean Paul para o Jornal do Brasil - em 24 de junho de 1997

Jornal do Brasil Online, 24 Junho 1997

O inventor do futuro

Jean Paul Jacob, gerente de pesquisas da IBM, explica como a tecnologia vai mudar a sua vida

TERESA KARABTCHEVSKY


Cabeça de Einstein, corpo de Pavarotti, lábia de Jô Soares. Assim é Jean Paul Jacob, o sorridente gerente de pesquisas da IBM, que passa a vida criando cenários futuristas e deixa qualquer alérgico a computadores convencido de que, em muito pouco tempo, essas máquinas serão mais amigáveis do que aquele velho companheiro de infância.

Paulista, apesar do nome francês, este apreciador de caipirinha "de cachaça" estudou Engenharia Eletrônica no Instituto Tecnológico da Aeronáutica (ITA), em 1960. De lá para cá, acumulou alguns PHDs.

Inventar o futuro faz parte do seu trabalho, mas é também sua maior diversão. "Não tenho hobbies, meu prazer está em fazer previsões. Vou assistir Jurassic Park e saio imaginando como eles fizeram aquilo, que equipamentos e programas foram usados", diz.

Em uma de suas primeiras adivinhações, decretou: "vou passar a vida viajando." Aterrisou na França, onde morou um ano. Depois passou pela Holanda e pela Suécia até despejar sua boemia na Califórnia, onde vive há 32 anos, comodamente instalado num apartamento em frente à Baía de São Francisco.

Enquanto vislumbra um mundo em que cartões de apresentação serão trocados num simples aperto de mão. Isso será possível graças a um chip embutido na sola do sapato de executivos e donas de casa. "Eles vão passar o dia pisando nessas informações, que depois serão transferidas para o computador", prevê. Como isso será possível? "Nós vamos ter uma aura digital. Vamos botar um disco rígido e um microprocessador na sola dos calçados. Falta a bateria? Não, o ser humano é um excelente condutor de eletricidade", vibra.

Pelo mesmo princípio, as donas de casa não precisarão mais recorrer às listas de compras. Um chip, acoplado à despensa, informará os mantimentos em falta e os dados serão registrados no sapato da madame. Ao passar diante das prateleiras do mercado, painéis luminosos avisarão que o produto deve ser comprado. Ah, aquela história de esvaziar o carrinho no caixa também vai acabar. As compras serão registradas automaticamente ao passarem por uma porta.

Nas visões criadas por Jean Paul, os automóveis terão transponders grudados no pára-choque que darão informações sobre as condições das estradas ao motorista. Seu entusiasmo pelos avanços tecnológicos traça um cenário ainda mais divertido: "teremos telas de cristal líquido emolduradas e poderemos escolher quadros de impressionistas para decorar a casa num jantar. Se o convidado preferir telas de Di Cavalcanti é só apertar um botão e trocar pela obra do brasileiro", ilustra.

Usando imagens de um planeta deliciosamente futurista, Jean Paul extrapola como ninguém algumas tecnologias que já existem. Um modelo experimental da japonesa Mitsubishi identifica, através de sensores, desvios no comportamento do motorista. Na Suécia, alguns modelos da Volvo saem de fábrica com transponders no bocal do tanque de gasolina, para que os frentistas-robôs dos postos possam identificá-los evitando que o cliente precise sair do carro naquele frio de rachar.

Parte do show deste sessentão está em falar sobre o que não conseguiu antever. Seu exemplo mais comum é a explosão do telefone celular, dos notebooks, dos CDs e da Web, todos frutos da necessidade do ser humano em se comunicar. Ele também comenta alguns erros de percurso da indústria de informática. O videofone é um deles. "Não pegou." Outro que não deu muito Ibope até agora foi o reconhecimento de voz. "Computadores com comando de voz só serão necessários para profissionais que usam as mãos, como os radiologistas, e deficientes físicos. Ficaria muito estranho eu dar ordens para o meu notebook no meio de um ônibus", justifica. "Também é difícil o reconhecimento do discurso", pondera.

Mas o mesmo time que toma alguns frangos, vez por outra faz golaços. Dois dos 2.500 pesquisadores que trabalham com Jean Paul no centro de pesquisas da IBM, em Almadén, na Califórnia, conseguiram teletransportar elétrons. A experiência não é, como muitos pensam, o primeiro passo para o teletransporte humano, mas trará progressos à medicina.

adaptado do Jornal do Brasil Online
Terça-feira, 24 de junho de 1997


copiado do link http://www.profcordella.com.br/unisanta/textos/fqa15_entrevista_aura_digital.htm

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